Monday, July 07, 2008

represando o tempo

Tenho transcrito em pensamentos palpáveis as abstrações mais intensas de minha vida. E neste momento, veio-me com imensa força a verdade mais cristalina sobre mim mesma. Eu teimo em repetir a infância, o amor maior e a acolhida sem tamanho. É como se pela vida afora eu me visse insistindo em vestir aquele mesmo vestido velho, que reluzia tanto da primeira vez em que o vesti. Como se eu quisesse represar o tempo, impedindo suas águas de inundar inevitavelmente a minha cidade habitada por tantas lembranças tenras. Como se me machucando, eu podasse minhas asas, mesmo sangrando, para que o amor não me deixasse...com as mãos trêmulas e a vista enevoada, sentindo espirais em minha cabeça, eu digo que não quero partir, ciente de que me é impossível ficar. A medida do possível me remete ao escuro de mim mesma e ao mais cintilante, que haverá de chegar fatalmente. Tenho medo de que estas pessoas deixem de existir nalgum canto de mim, e sei que ao partir, eu terei de silenciá-las de alguma forma, para que este maior amor não me mate. O amor quando é imenso como este pode até matar. Matar o que eu seria se fluísse com o tempo e não tentasse desesperadamente me apegar ao que deve ficar porque pertence a seu próprio lugar, e não a mim. O meu pai... o meu pai... o meu pai...