Wednesday, April 20, 2005

Liberta

Sair ao amanhecer da noite,
numa distração da mágoa...

Sorrateira, hei de voar livre
e alcançar o silêncio do mar ou de um deserto,
a fortaleza da saudade de quem ama,
o beija-flor em pleno vôo.

Hei de cortar o país, sentindo a chuva no rosto,
com a ilusória calma de quem vive crente de si.

E hei de preencher os vãos,
e saltar de falésias, assim de cabeça,
e testemunhar o fim de tudo
no começo da minha liberdade.

Saturday, April 16, 2005

Adormecida

Venho ao mesmo lugar em que estou para dizer do que sempre soube. O sentido de não estar nunca além de si mesma, categorizada e presente. O presente serpenteia por entre os dedos e destrói a memória imaginária de uma vida improvável. Eu seria a rainha, a mulher tempestuosa e a amante servil. A mágoa pintou o rosto e veio em sua delicadeza me cobrir o corpo nu, me alimentar de escuridão e amor bruto e me pentear os cabelos. E me acalantou com a canção lacrimosa que compus enquanto viva. Canção feita de silêncios e brilhos e cicatrizes de noites de amor. O sublime veio à minha porta para me dar de beber o sangue de mil soldados mortos e,então, pertenci a cada um deles em suas mortes. Refeita, adormeci em abismos e acordei neste mesmo lugar.

A mulher e o vento

Preciso falar sobre a mulher e o vento.

Resistência silenciosa
Amante pueril do vento.

Passaram-se temporais, turbulências e sonhos
pela imobilidade da mulher.

A vida esplêndida:
homens e carícias,
crianças e a glória impossível do ventre.

Jamais houve o que importasse..
Para sempre, indistintos,
A mulher e o vento.

Monday, April 11, 2005

O grande dia

11/04/05

A T.

E este é o grande dia.
Mas o sol se intimidou
e as flores na janela não vieram
e tudo que seria amor, não..

Finalmente, o grande dia em que você viria,
mas não estou em seu peito...

O grande dia,
mas tudo deixou de ser.

Thursday, April 07, 2005

Eu nunca amo

Tremulo na inocência da ilusão que me fugiu..
E me fugiu a vida e os sonhos da vida
e o lado doce da vida.

Febril, sou este ser que passa
e que sempre passará observando,
tocando o intangível com a minha loucura.

O amor não é meu e nunca será,
e amo tanto que já não me encontro mais.
Estupro.

Sepulto as ilusões de amor e eu nunca amo.