Mulher-dia
E naquela noite, ela se deitou com a mágoa, luxuriosamente como quem só assim se deita consigo. E lançou raios no silêncio escuro e criou figuras dissonantes e apostou a alma. Involuntariamente renasceu, parindo outra de si mesma, disforme de tristeza e dor. Negou a criatura horrenda, quebrou espelhos, matou-se ainda duas vezes, antes de aceitar a vida. Cegou, o sol queimou-lhe a palidez, criatura noturna deslocada, sedenta de ser outra que já era. Arrastou-se pelas ruas, mendigou olhares fraternos na frigidez concreta. Rompeu-se escura e forte. Iluminou a cidade. Tornou-se o próprio dia.