Friday, March 25, 2005

Mulher-dia

E naquela noite, ela se deitou com a mágoa, luxuriosamente como quem só assim se deita consigo. E lançou raios no silêncio escuro e criou figuras dissonantes e apostou a alma. Involuntariamente renasceu, parindo outra de si mesma, disforme de tristeza e dor. Negou a criatura horrenda, quebrou espelhos, matou-se ainda duas vezes, antes de aceitar a vida. Cegou, o sol queimou-lhe a palidez, criatura noturna deslocada, sedenta de ser outra que já era. Arrastou-se pelas ruas, mendigou olhares fraternos na frigidez concreta. Rompeu-se escura e forte. Iluminou a cidade. Tornou-se o próprio dia.

A Flor está viva

Estira-se a praia na solidez calma do mar.
O som de espaços profundos,
Poder natural do mistério.

Brota a flor pálida da escassez,
Persevera entre pressas e barulhos.

Limpa piscinas o homem-música
E constrói a dissonância o poeta
De mãos barrentas.

Sangue, glória renitente de
Artistas anônimos:
-A flor está viva.

Tuesday, March 08, 2005

Ininterrupta

Clandestina corre a poesia em minhas veias
Como quem se desculpa ou não mais deseja.

Impelida à obscuridade, eu desaprendo
E esquizofrênica, antechoro no sorriso.

Do espelho a mulher forte, que acalanta,
Lavando do rosto o negro da lágrima.

Súbita, sol que reluz
Mera distração de quem franco - atira.

Thursday, March 03, 2005

Inacabado

No peito, o tédio conformado
Esperançoso de amor.
Aguarda a reconciliação com o solitário-

Amante que conhece..

Ficção

Com o desejo de que as coisas sejam verdadeiramente boas, retorno de mãos vazias e olhos abertos no escuro. Cansados de perseguir o mais íntimo que é genuíno, puro e bom porque faz crescer, dá vida e esta me faz seguir sendo o que sou- a descobridora. Eu descubro uma nova morada onde só há resquícios de um lar, e das taipas e restos de tijolos, eu construo a casa minha, o meu lugar. De uma faísca faço uma estrela e da fugidia ilusão, fábula pra vida inteira. Cato os pedaços de papel e construo um barco que se lança em alto-mar e sou eu quem ali navega, sozinha no silêncio da imensidão. E do escuro, eu faço um mosaico, cheio de criaturas que se movem e que são o que nunca serei porque simplesmente me deixam não ser jamais. E de uma folha seca, eu tenho toda flora exuberante - eu, folha seca, com a minha escrita de folha seca, que no momento que escreve imagina-se flora exuberante. Aqui, agora, folha seca, resquício de lar, faísca de estrela, papel a sonhar o mar. E de uma história triste, eu extraio a força de achar que aprendi assim sempre perdendo, perdida. E de um sonho lindo, as mentiras que dão solidez aos muros intransponíveis que me cercam. E do que se foi, eu extraio meu coração. Mais uma vez.

Explicando

Bom começar explicando o nome do Blog aos poucos, mas muito bons amigos que hão de me visitar...Lilac Wine é uma canção belíssima, ao menos pra mim...Segue a letra:

LILAC WINE
(J. Shelton)
Originally performed by Elkie Brooks, but actually inspired to the version sung by Nina Simone

I lost myself on a cool damp night
Gave myself in that misty light
Was hypnotized by a strange delight
Under a lilac tree
I made wine from the lilac tree
Put my heart in its recipe
It makes me see what I want to see
and be what I want to be
When I think more than I want to think
Do things I never should do
I drink much more that I ought to drink
Because (it) brings me back you...

Lilac wine is sweet and heady, like my love
Lilac wine, I feel unsteady, like my love
Listen to me... I cannot see clearly
Isn't that she coming to me nearly here?
Lilac wine is sweet and heady where's my love?
Lilac wine, I feel unsteady, where's my love?
Listen to me, why is everything so hazy?
Isn't that she, or am I just going crazy, dear?
Lilac Wine, I feel unready for my love...